Juan é hondurenho e vive em Madri há quase um ano. Faz parte da legião de estrangeiros ilegais no país. Não tem documentos de imigração, não tem trabalho regular, não tem benefícios sociais. Para sobreviver, compra artigos em lojas chinesas e revende na rua e nos bares. Leva na bolsa a tiracolo óculos luminosos, colares extravagantes de plástico colorido, isqueiros, máscaras e flores. Sua jornada começa às seis da tarde, quando os que saem do trabalho lotam os bares do centro, e segue até cessar o movimento da rua.
Por esses dias, aproveitando a Copa do Mundo, Juan passou a vender exclusivamente um produto de ocasião: bandeirolas da seleção espanhola. As vendas aumentaram consideravelmente, em especial nos dias de jogo.
Hoje Juan começa uma nova jornada. Entra cauteloso no bar lotado de torcedores. Todos estão em silêncio e olham na mesma direção, concentrados na imagem e no som da tela pendurada na parede. Circula pelo balcão e entre as mesas oferecendo o produto. É metade do primeiro tempo, Espanha marca um a zero contra Honduras. A torcida do bar grita, aplaude, brinda com cerveja. Juan olha por um momento quase estático o replay do gol em câmera lenta. Saca as bandeirolas da bolsa e põe na cara um sorriso simpático de vendedor. Agita as bandeiras com entusiasmo emprestado e vibra meio desbotado um vermelho-amarelo que não lhe pertence, pensando que os gols da Espanha podem ser bons para o negócio.
Não há ninguém na rua quando Juan sai do bar, relativamente satisfeito, com a bolsa quase vazia e a noite ganha.