Em seu novo livro de contos, o moçambicano Mia Couto traz histórias que tratam de grandes males que assombram a sociedade, dos tempos mais remotos aos dias atuais. A perspectiva da finitude, o medo do abandono, indiferença, traições, guerras e pandemias são alguns dos temas que perpassam As pequenas doenças da eternidade.
A seleta reĂşne histĂłrias que Mia Couto tem publicado na revista portuguesa VisĂŁo. Para esta edição — ligeiramente diferente da publicada em Portugal sob o nome O caçador de elefantes invisĂveis —, o autor revisitou todos os contos, modificou pequenos detalhes e abdicou de alguns textos.
O conto-tĂtulo começa com um suplĂcio: “Peço a Deus que me dĂŞ a felicidade das pequenas doenças”. Nele, uma mĂŁe e seu filho rezam para evitar graves enfermidades e tentam, sem sucesso, postergar o prĂłprio fim.
A saúde — assim como a paz, a igualdade, a dignidade — é a súplica que permeia todas as páginas da seleta de contos: o velho que recebe em casa um enfermeiro em serviço de rastreio da Covid-19; uma mulher que aguarda a volta do marido; um rapaz que retorna à sua aldeia e não é reconhecido; as sombras do abandono numa sala de espera de hospital.
Vencedor do PrĂŞmio Camões (2013), o mais prestigioso da lĂngua portuguesa, Mia Couto Ă© autor de mais de 30 livros, entre prosa e poesia. Seu romance Terra sonâmbula Ă© considerado um dos doze melhores livros africanos do sĂ©culo 20.