Silvia Saint
Teu santo nome veste
A quintessência bruta
Da arquetípica puta,
Vênus baixa e celeste.
Áurea cachorra, vaca,
Por que é que os lábios tremem
Vendo em teu rosto o sêmen
Como uma vítrea laca?
Sêmen geral, das turbas
Em teu suor diluído,
No sorriso vendido
Com que os mortos perturbas.
Exatidão vivente,
A luz pisa em teus passos,
Nos teus cílios devassos,
No olhar que arde e consente.
Cadela de ouro, glória
Pueril, sórdida e santa,
Asco que envulta e encanta,
Deusa auto-entregue à escória.
Deusa, deusa mil vezes,
Deusa de uma e mil faces,
Das rameiras rapaces,
Das cortesãs soezes.
Da Assíria e de Corinto,
De Suburra e Pompéia,
Em ti toda a alcatéia
Uiva o olvidar do instinto.
Deusa mordível, puta
Vinda a sorrir do Letes,
Talvez um dia aquietes
Tua carne alva e corrupta?
Jamais, deusa, não traias
Teus pobres fiéis que babam,
Que em êxtases se acabam
Por ti, pelas tuas aias.
Louro véu do universo,
Sacra estátua e cadela,
Pisa esta alma que vela
Teu sonho áureo e perverso.