🔓 Obra amplia reflexão sobre ponto de vista dos animais na literatura

Em “Animalidades”, Maria Esther Maciel lança luz sobre a questão dos animais na literatura por meio de uma análise abrangente de obras clássicas e contemporâneas
Maria Esther Maciel, autora de “Animalidades: zooliteratura e os limites do humano”. Foto: Ozias Filho
26/04/2023

Nos últimos anos, a escritora e pesquisadora Maria Esther Maciel tem se dedicado a investigar a relação entre os animais e a literatura. Agora ela amplia essa discussão com Animalidades: zooliteratura e os limites do humano, livro publicado pela Instante.    

Na literatura ocidental, não foram poucos os escritores que atribuíram emoções e pensamentos aos animais. O registro mais antigo remonta à Odisseia, de Homero, em que o cão Argos reconhece Ulisses após vinte anos e só então morre diante do herói.

Alguns contemporâneos foram mais além: conferiram voz particular e espaço narrativo a seres não humanos. Um exemplo recente é Yoko Tawada, que buscou ocupar a interioridade de ursos-polares para depois “traduzi-la” em linguagem humana.

No extenso intervalo entre esses dois autores, outros escritores ousaram dar protagonismo a animais a fim de abordar questões não humanas num mundo dominado por humanos, como Virginia Woolf e Franz Kafka. E, na literatura brasileira, temos Graciliano Ramos, com a cachorra Baleia, de Vidas secas, e Machado de Assis, cujo personagem canino Quincas Borba se confunde com o humano homônimo no romance de mesmo nome, além de Guimarães Rosa, Drummond e Clarice, com suas obras que trazem bois, cavalos, búfalos e baratas como personagens.

Em Animalidades: zooliteratura e os limites do humano, Maria Esther Maciel se detém nas subjetividades não humanas no âmbito da filosofia, da etologia e da literatura, entre outras áreas do conhecimento, com incursões em narrativas e poemas que priorizam o ponto de vista animal, seja na forma de um “eu” poético, seja na apresentação dos bichos como protagonistas e/ou narradores, em interação paradoxal com os humanos.

A noção de “zoo(auto)biografia” emergiu dessa abordagem, possibilitando uma entrada mais efetiva na esfera ficcional de obras que se apresentam como histórias de vida ou relatos memorialísticos de animais. E a última parte do livro se concentra na literatura brasileira moderna e contemporânea e enfatiza poéticas e políticas da natureza do século 21.

Pesquisadora e professora titular de Literatura da UFMG, Maria Esther Maciel é doutora em Literatura Comparada pela mesma instituição, com pós-doutorado em Literatura e Cinema pela Universidade de Londres e em Literatura Comparada pela USP, leciona na Pós-Graduação em História e Teoria Literária na Unicamp. Publicou, entre outros livros, O livro dos nomes (Companhia das Letras, 2008) e Pequena enciclopédia de seres comuns (Todavia, 2021).

Animalidades: zooliteratura e os limites do humano
Maria Esther Maciel
Instante
176 págs.
Rascunho

O Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

Rascunho