🔓 Miguel Sanches Neto volta ao romance autobiográfico em “Inventar um avô”

Autor paranaense comemora 30 anos de vida literária com livro que revisita a história da imigração espanhola no Brasil e expõe as angústias da orfandade
Miguel Sanches Neto, autor do romance “Inventar um avĂ´”
24/04/2023

O novo romance de Miguel Sanches Neto, Inventar um avô, faz um mergulho nos sentimentos da orfandade e mistura o real e o ficcional ao se aprofundar na história da imigração espanhola no Brasil. O livro será lançado no próximo sábado (29) em Curitiba, na Livraria da Vila (Pátio Batel Avenida do Batel, n. 1868 – Loja 314, piso L3), a partir das 18h.

O novo romance também marca os 30 anos de vida literária de Miguel Sanches Neto, que ao longo de sua trajetória publicou de mais de 40 livros, em diversos gêneros. Resultado de um grande trabalho de pesquisa de campo em cidades do interior e do litoral do estado de São Paulo e também no Museu da Imigração de São Paulo, Inventar um avô revisita as ondas migratórias do início do século XX, em que cerca de 700 mil espanhóis desembarcaram no Brasil.

“O livro é inspirado no fato de não haver nenhum registro do meu avô espanhol em nenhum lugar”, explica o autor. “Nem mesmo nos documentos de imigração. Ele chegou ao Brasil em 1912 e desapareceu nos sertões paulistas, morrendo cedo. Tentei entender pela ficção como as famílias analfabetas que trabalharam nas lavouras de café sofreram de uma invisibilidade muito rápida. Não sabemos nem onde meu avô está enterrado. Este romance é um túmulo ficcional para ele.”

Narrada em primeira pessoa, a obra se inicia com a atitude de um pai que batiza seus três filhos com o mesmo nome. Quando questionado sobre a decisão, diz apenas que “naqueles tempos morriam muitas crianças”. Após a morte do pai, os três irmãos crescem cuidando da mãe em uma casa povoada por bonecas. Esse ambiente familiar, marcado por uma rotina por vezes obscura, se desestabiliza quando o filho mais novo decide viajar para outra cidade. A partir daí, inicia-se a saga do narrador-protagonista em busca da própria identidade por meio da trajetória de um avô espanhol sem história.

“É um livro que tenta ser um exercício de delicadeza, mostrando como podemos descender de narrativas inventadas, que não precisamos ter um passado palpável para nos representar. Toda pessoa que se interessa por recordações familiares vai encontrar nele uma maneira diferente de recuperar a saga dos imigrantes”, reflete Sanches Neto. “Meu avô foi um buraco na memória familiar. O romance tem algo detetivesco, de tentativa de encontrar um desaparecido, este avô avesso à visibilidade. A sua invisibilidade principal é de linguagem, por ter sido analfabeto. E o narrador tem que corrigir isso dando a ele uma história escrita. ”

Escrito entre 2015 e 2016, época em que o autor morou em Portugal, Inventar um avô passou por mudanças na narrativa. Após muitas alterações, a obra perdeu o caráter autobiográfico e ganhou elementos ficcionais, e uma linguagem mais poética. O livro marca também um período difícil na vida de Sanches Neto, que passou por um longo período de depressão.

“Nos últimos anos, passei por um processo depressivo muito agudo, que culminou em uma crise durante todo o ano de 2022. No momento mais crítico, decidi parar de escrever. Fui parando até de tomar notas nos diários que mantenho desde 2007, pois não conseguia mais me entusiasmar com a escrita. A produção, principalmente de um romance, exige uma energia contínua e crescente, que me faltava naquele momento. Nos últimos dois meses eu venho superando a depressão e tenho feito isso por meio da escrita”, finaliza o autor.

Inventar um avĂ´
Miguel Sanches Neto
Maralto
Rascunho

O Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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