CARTAS_março_2011

10/03/2011

CARTAS_março_2011

Ainda Monteiro Lobato
Em atenção ao artigo Me convençam, de Alberto Mussa, publicado no Rascunho 128, e à resposta Quem é rascista?, de Alexei Bueno, no Rascunho 129, eu, como leitor e professor neste país de atitudes e bandeiras absurdamente discutíveis, quero acrescentar alguns pontos:

a) Afinal, se o governo brasileiro crê, de fato, que nosso maior escritor de literatura infantil é racista ou tem passagens racistas e isso fere a política atual do Ministério da Educação, por que compra e distribui livros de Lobato? Por que não guarda sua verba para aquisição e distribuição dos livros de autores contemporâneos, cujas “plataformas e projetos literários” são politicamente corretos? Nos próprios quadros do PT deve haver alguns desses, digamos, “talentos” literários, cujo discurso se encaixa no projeto do partido; Monteiro Lobato não serve mesmo a projetos político partidários, mas há quem sirva, sirvam-se deles;

b) Por que será que os baixos salários dos professores, as condições sofríveis das escolas brasileiras e os ouvidos moucos que os governos municipais, estaduais e federais, sem exceção, fazem para a questão da educação no País, não ferem nenhum princípio de nenhum projeto do Ministério, mas o contexto de época e as analogias de um escritor ferem? Não seria essa mais uma forma de mudar o foco da verdadeira questão que é o péssimo lugar que a educação ocupa hoje na mentalidade e na lista de prioridades dos nossos representantes?

c) meu caro Alberto Mussa, seus argumentos parecem bastante infantis: as crianças são seres humanos e como todo ser humano podem ser cruéis e imprevisíveis, nenhuma tarja ou censura ou rescrita de/num livro infantil impedirá uma criança de ser cruel com o coleguinha, pelo contrário, isso aguçará a curiosidade dela; você, como escritor, deve saber disso: diga a um ser humano para não pensar em “cavalo”, imediatamente ele pensará num cavalo; além disso, dizer que os livros de Lobato devem ser rescritos é de uma petulância, no mínimo, risível, como também é perigoso estabelecer que podemos mudar o que um autor escreveu simplesmente porque a nossa visão de mundo hoje não “casa” com a visão de mundo de outrora! Ora, quem somos nós para julgarmos os nossos antepassados? Façamos primeiro um mundo melhor que eles, antes de nos julgarmos acima da história e dos erros;

d) Os escritores são seres humanos, com suas imperfeições, seus talentos, seus acertos e seus erros; se vamos adotar um autor em sala de aula, é preciso estudá-lo em sua complexidade; se, ao contrário, queremos facilidade, o mercado está cheio delas, deixemos os grandes autores de lado, pois eles podem ser também tiranos, machistas, racistas, homofóbicos, antisemitas, falhos, burros, como todo ser humano; afinal, qual é a proposta, uma higienização da literatura? Mais um passo e estamos bem perto de Hitler;

e) Rescrever passagens de algum autor, quem quer que seja, é pior do que a censura militar, imagina se essa moda pega! Eu, por exemplo, Alberto Mussa, considero a criatividade imprescindível na minha sala de aula, então, que tal um projeto que mude seus livros, por exemplo, quando eles me parecem pouco criativos? Ou então quando não trazem a minha visão de mundo? Acho que nem Médici chegaria a propor um projeto desses, o incrível é que ele seja defendido por um governo de esquerda e legitimado por um escritor;

e) Meu caro Alexei Bueno, seu argumento acerca da diferença entre épico e comédia é realmente muito bom, creio que a inserção dessa discussão em sala de aula será bastante produtiva e pode trazer contribuições ao debate acerca do contexto complexo em que vivia Monteiro Lobato, que tem, sim, textos com conotações racistas, mas escreveu outros em que defende os negros. Entretanto, me permita discordar do final de seu texto, quando você coloca um trecho de um livro chamado Quilombolas. A inserção desse argumento dá margem para que entendamos aquela velha “manobra” discursiva de que os negros são também racistas, às vezes até mais que os brancos, amarelos, vermelhos, etc. Ora, isso não é argumento! Se no livro “Quilombolas” há racismo, ele deve ser rechaçado pela sociedade atual, que vem manifestando indignação contra esse tipo de discurso/ideologia, assim como qualquer outro livro, seja ele de autor branco, negro, cor de abóbora ou lilás. Tomar um ser humano ou grupo pela sua cor é racismo, e isso não se restringe à prática histórica da discriminação e preconceito praticada por sociedades de maioria branca, compreendeu? A meu ver, esse tipo de colocação não leva a nada, não estamos discutindo qual grupo é mais racista, na verdade, estão discutindo se temos direito de censurar ou reescrever os livros de autores cuja visão de mundo mostre problemas como racismo, machismo, homofobia, antisemitismo, etc.

Por fim, creio que a proposta de tarja e/ou rescrita quer nos fazer crer que nossas crianças crescerão num mundo sem racismo e sem conflito, o problema é Monteiro Lobato. Hoje pensamentos assim nos dão direito de mutilar Monteiro Lobato, amanhã, não se sabe quem. Isso é tão grave quanto o racismo, e volto a dizer: só poderia nascer num país de bandeiras absurdas.
Antônio Carlos Pascoal • Aracaju – SE

Josué Guimarães
O texto sobre Josué Guimarães (Rascunho 129), meu escritor preferido e um dos maiores do nosso país, foi brilhante! Resgatou a figura desse grande romancista. Parabéns ao crítico literário Vicentônio Silva por evidenciar o trabalho desse que, como outros, é tão esquecido. Parabéns ao Rascunho por publicar a matéria!
Carla Amanda • via e-mail

Parrudo
Encontrei o Rascunho num sebo perto de onde trabalho, em Pinheiros, São Paulo, e fiquei muito feliz por encontrar um jornal tão “parrudo” para um tema que infelizmente já não desperta tanto interesse em tempos de internet, twitter, facebook…
Francine Machado de Mendonça • São Paulo – SP

Agradecimento
O Pontão Ação Cultural em Rede (Associação dos Produtores Culturais de Mato Grosso) agradece o envio do Rascunho.
Eduardo Espíndola • Cuiabá – MT

Manoel de Barros
Vocês estão de parabéns pelo trabalho desenvolvido. Sugiro que façam uma entrevista com Manoel de Barros, poeta sul-mato-grossense, explicitando todos os seus livros, conseqüentemente a sua obra. É um dos maiores poetas brasileiros. Merece homenagem.
Saulo Pimenta Neves • via e-mail

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