Carlos Alberto Gianotti

Quatro contos de Carlos Alberto Gianotti
01/01/2008

Injunções da municipalidade
Imaginem que hoje, indo sob um sol escaldante para a academia — onde encontraria o ar fresco do condicionador e um personal trainer para me orientar em mais uma seção de exercícios físicos recomendados aos de sedentária profissão —, precisei desviar duma valeta que estava sendo aberta pelos golpes vigorosos de pás e picaretas dos extenuados operários do departamento municipal de águas.

Uma vida pelas costas
Lamentável é a chegada de mais esta sexta-feira: isso quer dizer que estamos deixando outra semana de vida para trás. Bom seria se ainda fosse segunda-feira passada, pois assim teríamos uma semana de vida pela frente.

Pastel de carne
O gordo responsável pelo estoque do supermercado saiu do depósito com seu habitual ar de má vontade, foi até o Gol branco 98 estacionado ali na frente com caixas térmicas dentro do porta-malas aberto, tirou um real do bolso, pagou o pedido à mulata de avental e se afastou uns passos para, sossegado, saborear o seu pastel. Limpou os beiços, e — enquanto arremessava o guardanapo amassado na lixeira — foi taxativo: — Valeu, tia!

Um almoço frugal
Em plena sala de espera do hospital de clínicas veterinárias, onde um cachorro malcontido pelo seu dono latia em meio a outros que aguardavam atendimento, o proprietário do cavalo manco, amarrado à entrada, vomitou, porque as almôndegas do boteco em que ainda agora almoçara estavam sanitariamente comprometidas.

Carlos Alberto Gianotti

É professor de Física e editor. Escreveu os contos de Um rio circunferencial (WS Editor) e os ensaios de Falar o que seja é inútil (Circuito).

Rascunho