Poemas de Alejandro Acosta

Leia os poemas "Malambo", "Estilo" e "Sedução dos venenos"
O poeta argentino Alejandro Acosta
01/01/2011

Tradução: Ronaldo Cagiano

Malambo
Quando migrarem as grandes areias,
descerá da figueira
munido de mapas, notas e minúcias.

Quando migrarem as grandes areias,
porá na mochila de ataque
abrigo, obstinação e água para os cumes sem neve.

Com o próprio peso escalará
e pelo estreito do vale ocultará a sua sombra
nos vestígios de uma ravina
quando migrarem as grandes areias.

Subirá selva adentro num parapeito.
Não veio para olhar os cactos alongando-se.

Talvez observe sem se aperceber do perigo.

Estilo

Deixei para trás o campo da contenda
Deixei para trás as migalhas de pão do regresso seguro
Para trás ficaram
o aguilhão que sonha com as fases dos corpos
o sítio da flecha inicial

Como quem um longo trecho sobre brasas
como os olhos do mar,
como as últimas forragens
os mercados de futuro e
as faltas do estoque que acabaram.

Falo do tempo morto de minha outra vida.

Um hormônio, uma enzima, uma casualidade,
a desobediência é este ar fresco nos meus velhos pulmões.

O universo está colidindo com outra coisa.

Sedução dos venenos
a Claudio

São os rosados venenos os indicados para a minha morte
eu soube na tarde sangrenta,
essa flor de amor desfeita entre as folhas.

Já não digas nada.
Nossa canção presente
como uma precisa alquimia propiciará sua derrubada
e todos guardamos, amorosos, nossa penumbra.

Teremos sempre à frente um abismo.
Saboreio a fumaça
e a deixo morrer contra a noite imensa
— a noite entra na noite e na lua,
essa mulher morena, nos assedia.
Sempre à frente teremos um abismo.

À frente sempre está o abismo.

Uma agitação avermelha a água
enquanto distingo o meu fantasma
que me segue se o solicito.

Convidam-me a saltar.

Não está provado que nenhum homem não tenha voado nunca.

Alejandro Acosta
Nasceu em San Fernando del Valle de Catamarca, Argentina, em 1965. É advogado e militante cultural. Criador e diretor da revista Agua Ardiente, é autor dos livros Las tramas coloridas, La creciente, Cuentos para una Alicia crecidita, De los venenos e Bohorquez o la seducción.
Ronaldo Cagiano

Nasceu em Cataguases (MG). Formado em Direito, está atualmente radicado em Portugal. É autor de Eles não moram mais aqui (Contos, Prêmio Jabuti 2016), O mundo sem explicação (Poesia, Lisboa, 2018), Todos os desertos: e depois? (Contos, 2018) e Cartografia do abismo (Poesia, 2020), entre outros.

Rascunho