Vargas Llosa e Euclides da Cunha: confluências (3)

E Mario Vargas Llosa, em A guerra do fim do mundo, conseguiu traçar um retrato fiel da realidade da Guerra de Canudos?
O escritor peruano Mario Vargas Llosa
01/02/2013

E Mario Vargas Llosa, em A guerra do fim do mundo, conseguiu traçar um retrato fiel da realidade da Guerra de Canudos? De que forma? Bom, sabe-se que Vargas Llosa pesquisou muito, se amparou numa grande massa de documentos, além de, em seu romance, travar um diálogo de perto com Os sertões, livro que ele chegou a considerar um manual de latino-americanismo. No enredo do romance são reconstituídas as quatro expedições militares, as figuras principais que estiveram à frente delas, como, por exemplo, o coronel Moreira César. O Conselheiro, embora caricato, é outro tipo que, no romance, aparece com certos traços parecidos com os do Conselheiro real. O ambiente histórico e social da guerra é muito bem resgatado, a religiosidade dos sertanejos, as intrigas políticas, o poder e a visão de mundo dos coronéis. Claro: há um viés caricatural no romance, não só do Conselheiro ou ainda de Moreira César, mas, dando-se os devidos descontos, o resgate histórico feito por Vargas Llosa é magistral. O Barão de Canabrava é um personagem extraordinário. Poucos romances conseguiram retratar tão bem a figura de um coronel nordestino. Poucos conseguiram configurar com tanta pertinência a questão do mando e a do jogo político para a manutenção do status quo. O Barão de Canabrava é o personagem central do livro de Vargas Llosa, o mais bem elaborado.

CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO.

 

Rinaldo de Fernandes

É escritor e professor de literatura da Universidade Federal da Paraíba. Autor de O perfume de Roberta, entre outros.

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