Poesia em Berkeley (4)

Poemas de Lisabeth Castro-Smyth
Ilustração: Rettamozo
01/02/2013

Costurado no coração

Foi na noite em que eu estava tricotando com a minha avó
enquanto meu avô estava no hospital
que ela me disse por que
suéteres irlandeses têm um padrão único,
abraços de lã feitos na luz de lâmpada

Tudo começou no Oeste da Irlanda,
suéteres feitos pelas mulheres para os seus pescadores
cada um feito como único
para poder reconhecer o seu amor
não importando o quê

Me fez querer requerer você
como é nossa tradição
para que eu possa encontrar
você
e saber que me pertence

Mesmo se o oceano rouba a respiração do meu amor
eu reconhecerei você pela minha costura através de seu coração
meu amor abrigando você do frio
a dobra da gola: malha, purl, purl, arrematar ..

De modo que, mesmo em morte
vou reconhecer você
embalada na obra das minhas mãos

Naquela noite, eu me senti mais sozinha
enquanto eu dava ao vovô sorvete de baunilha
e água com um canudo dobrável
colocando um pano frio na sua testa,
eu seguro o telefone para ele
para que possa dizer boa noite a ela
novamente
novamente após 61 anos
de boa noite, bom dia e boa noite…

ela pergunta “Você precisa de alguma coisa?”
ele responde: “Eu tenho você”

Ele não está usando o suéter que ela fez
nesta cama de hospital de sinais sonoros e plástico;
não é o mar da Irlanda

Mas quando a morte vier
ela ainda vai reconhecê-lo
pelo coração.

Tradução: Cynthia Rippel

Stitched across the heart

It was the night I sat knitting with my grandmother
while grandpa was in the hospital
she told me why
Irish sweaters have unique stitchwork,
lamplight wool embraces

It started in Western Ireland,
sweaters made by women for their fishermen
each made unique
so as to know your love
No matter what 

Made me want to claim you
as is our tradition
so that I can find you
and know you mine

Even if the ocean steals my love’s breath
I will know you by my stitching across your heart
my love sheltering you from cold
the fold of the collar: knit, purl, purl, cast off..

So that even in death
I will recognize you
cradled in the work of my hands

That night I felt more alone
as I fed grandpa vanilla ice cream
and water with a bent straw
Placing a cool cloth on his forehead,
I hold the phone for him
so that he can tell her goodnight
again
again after 61 years
of goodnight, good morning and goodnight

she asks him ‘Do you need anything?’
he replies: ‘I’ve got you’

He is not wearing the sweater she made him
in this hospital bed of beeps and plastic;
it is not the ocean of Western Ireland

But when death comes
she will still know him
by heart.

Remédio

Minha avó sempre me contou do remédio do seu coração —
como nasceu fraca
(assim disseram)
e do remédio
achado no mar.

Receita para consertar o coração de uma criança:

1. cinco minutos no abraço do mar, profundeza salgada de São Jorge
2. cinco minutos abrigada por toalhas & braços ternos em terra vulcânica
3. uma colher de café preto
4. repete

isso era ciência,
fortalecendo aquele músculo pequeno no seu peito de menina
talvez
cura passada
de geração a geração
ou
esperança construída em elementos da alma da ilha —
uma mãe desejando ferozmente
a vida
na sua filha
com toda e qualquer coisa que tinha:

tempo com o desconhecido, o profundo, o mar
tempo segurado firmemente, abrigado, protegido
e um gosto do que é amargo
e de casa.

Tradução: Dana Gundling

Remédio

My avó always told me her heart’s remédio —
the way she was born weak
(so they say)
and the cure
that was found in the sea.

Recipe to mend a child’s heart:

1. five minutes in the ocean’s embrace, salty depths of São Jorge
2. five minutes bundled by towels & warm arms on volcanic land
3. one teaspoon of black coffee
4. repeat

this was science,
strengthening that small muscle in her girl’s chest
perhaps

healing passed on
for generations
or 

hope built upon elements of the island’s soul —
a mother fiercely willing
life
into her child
with anything and everything she had:

time with the unknown, the profound, o mar
time held firmly, bundled, safe
and a taste of what is bittersweet
and home.

Palavras

Meu antepassado um dia fez um barco de palavras
para ver se o poder delas poderia levá-lo
de uma ilha para outra

Ele começou dobrando jornais,
construindo uma canoa de papel…

Talvez não houvesse madeira
talvez fosse um jogo de azar, jogado com o destino
ou um desafio para o mar

Uma medida da força que as palavras possuem
se a beleza delas poderia sustentar seu peso — e até onde?

Dizem que ele viajou até
o mar devorar letras
faminto
por lágrimas, linguagem, idéias

porque o oceano é devorador
eterno lugar de descanso de gritos, sonhos e
de todas as palavras que ele dobrou com mãos esperançosas.

Tradução: Cynthia Rippel

Palavras

My ancestor once made a boat of words
to see if their power could carry him from
one island to the next

He began, folding newspapers,
building a canoe of paper…

Perhaps there was no wood
perhaps it was a game of chance, played with destiny
or a challenge to the sea

a measure of how much power palavras possess,
If their beauty could carry his weight – and for how far?

They say he travelled until
the sea devoured letters
hungry
for lágrimas, language, ideas

because the ocean is ravenous,
eternal resting place of gritos, sonhos and
every word he folded with hopeful hands.

Lisabeth Castro Smyth

Foi criada na Califórnia (EUA) por sua família de descendência açoriana e irlandesa que lhe ensinou a importância das raízes, da poesia e da educação. Trabalhou em diversos projetos, incluindo programação de arte e alfabetização para crianças e criação de narrativas da vida com mulheres lutando contra o câncer. Castro-Smyth atualmente é mestranda em bem-estar social na universidade de Berkeley. Estes poemas são dedicados a seus ancestrais, com gratidão e amor.

Rascunho