🔓 Cosmos

O escritor e tradutor Leonardo Villa-Forte indica a leitura do romance de Witold Gombrowicz
01/03/2013

“Ganhei Cosmos de presente e abri-o sem esperar nada, pois em 2011 não conhecia seu autor, sua reputação e seus outros trabalhos. Por uma semana não consegui largar o livro, lendo-o e relendo-o em todos meus intervalos de hora do almoço, quando procurava um lugar pouco ruidoso no centro do Rio de Janeiro. O que me fazia prosseguir? Você lê o livro sem saber responder bem a essa pergunta. A sensação principal é de uma liberdade tremenda — pareada com obsessão. Cosmos tem uma história: Witold, um jovem, foge das brigas da família e pelo caminho encontra Fuks, antigo amigo que está cansado das disputas com seu chefe. Os dois acabam alugando um quarto de uma casa familiar num vilarejo próximo. O que vêem ao chegar? Um pardal morto pendurado num arame. Quem o matou? Por quê? E por que o deixou pendurado ali, logo ali? Esse é o ponto de partida para uma série de conjecturas sobre a natureza daquela ocorrência, e os dois amigos buscam evidências que os ajudem em suas múltiplas suposições. Cosmos fala da busca por pistas e suas interpretações, na tentativa de reconstituição de algum fato que nos escapa. Mas ao invés do “caso” ir se fechando, o jovem Witold — que é o narrador —, abre mais problemas do que os resolve. O que acontece se tudo pode ser uma pista? Quais as diferenças entre um sinal inexpressivo e cotidiano, e um sinal significativo e singular? Assim, Cosmos vai ganhando ares de um incomum mistério de detetives, com pegada surreal e metafísica. Não bastando essa rara confecção, a linguagem do narrador vale o apreço por si só. Corrosiva, irônica, cheia de humor e música, é viciante e atrai pela alta voltagem. Uma jam session que gera uma canção no próprio ato, uma realidade que vai criando a si mesma.”

 

Leonardo Villa-Forte. Foto: Divulgação

Leonardo Villa-Forte é escritor e tradutor. Mantém o blog de remix literário MixLit e lançará seu primeiro romance no segundo semestre deste ano. Vive no Rio de Janeiro (RJ).

Rascunho