José Lins do Rego, como é do conhecimento de todos, é um dos principais romancistas brasileiros do século 20. Nascido no Engenho Corredor, em Pilar (Paraíba), em 1901, morou em cidades como Itabaiana, João Pessoa, Recife, Manhuaçu (atuou como promotor público neste município mineiro), Maceió (ficou de 1926 a 1935 em Alagoas e conviveu com Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Aurélio Buarque de Holanda, Jorge de Lima, Valdemar Cavalcanti, entre outros) e Rio de Janeiro, onde morreu em 1957. A década de 1930, quando José Lins passa a publicar seus livros, foi, dentro e fora do Brasil, de forte embate ideológico. As idéias de esquerda penetram mais fundo no país. Impõe-se ao escritor uma exigência: a de uma maior consciência do país, do seu subdesenvolvimento, atraso. Importa neste momento interpretar o Brasil — através do ensaio social, da ficção. No ensaio basta lembrar que saem duas obras capitais para a cultura brasileira: Casa grande & senzala (1933), de Gilberto Freyre (com quem José Lins convive na década de 1920, no Recife, e cujo pensamento acerca do regionalismo será importante na formação do romancista paraibano), e Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda. Na ficção tem destaque o chamado “Romance de 30”, em que, no principal de sua produção, se insere José Lins do Rego. O “Romance de 30” compôs-se de obras tidas como regionalistas (ou neo-realistas), de forte teor social, em grande parte produzidas por escritores de origem nordestina (além de José Lins, José Américo de Almeida, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado), que buscavam problematizar e/ou fazer refletir sobre as estruturas econômicas, a ideologia, valores, condutas e condições de classes da região Nordeste. São romances de denúncia, ou, por assim dizer, contra-ideológicos, abordando aspectos da região (seca, misticismo, cangaço, coronelismo). Trata-se, portanto, nas obras de melhor fatura (as que, de alta voltagem estética, escapam a certo — e talvez necessário, levando-se em conta, naquele contexto, os choques políticos — esquematismo ideológico próprio do período), de um regionalismo profundamente crítico. Embora, em seu caso em especial, as classificações não sejam inteiramente corretas, a crítica costuma dividir a obra de José Lins em alguns ciclos. Para José Aderaldo Castello, por exemplo, a produção do escritor se constitui de: 1) “Ciclo da Cana-de-Açucar”: Menino de engenho (1932), Doidinho (1933), Bangüê (1934), Usina (1936) e Fogo morto (1943); 2) “Ciclo do Cangaço, Misticismo e Seca”: Pedra bonita (1938) e Cangaceiros (1953); 3) “Obras independentes” dos ciclos: O moleque Ricardo (1935) e Pureza (1937); 4) obras que buscam “fugir” ao ambiente nordestino: Riacho doce (1939), Água-mãe (1941) e Eurídice (1947); 5) regresso ao ambiente nordestino: Meus verdes anos (1956).