Poemas de Wagner Schadeck

Leia os poemas "Numa praça" e "Édipo"
Wagner Schadeck é tradutor, editor, ensaísta, poeta e tradutor
30/09/2017

Numa praça

Nestas ruas há pedintes,
pernetas, putas, velhacos
vendendo alheios barracos,
logrando os contribuintes.

Nas esquinas, os seguintes
são catadores de cacos,
donas desfilam casacos,
pastores com seus ouvintes.

Aonde irá toda essa grei?
Que sigam. Eu ficarei
num busto brônzeo da História.

E assim, no futuro, às vezes,
pombas na festa das fezes
irão batizar-me à glória.

…..

Édipo

Nesta cidade de almas enlameadas,
Como dentes que saltam dos cavoucos,
Os paralelepípedos aos poucos
Podres deixam banguelas as estradas.

Os seus sonhos são lâmpadas queimadas
Num corredor de hospício cujos loucos,
Com colchas no pescoço e gritos roucos,
Em fuga se enforcaram nas sacadas.

Em sua entrada, à luz de olhos alertas,
Que piscam pela madrugada adentro,
Por praças e avenidas mais desertas,

Nos muros e edificações do Centro,
Meu olhar nos hieróglifos constringe:
Como decifro esta voraz esfinge?

Wagner Schadeck

Nasceu agosto de 1983, em Curitiba (PR). Atualmente, mora em Santa Maria (RS). Traduziu as Odes de John Keats (2016), A desumanização da arte (2021) de Ortega y Gasset, entre outros. Foi selecionado por André Seffrin para a atualização da antologia Poemas de amor de Walmir Ayala (2021). Publicou ainda Quadros provincianos (2018), livro semifinalista do prêmio Oceanos, categoria poesia, e Terra enferma (2020).

Rascunho