Dia desses uma dor muito forte me fez bater no hospital para que eu descobrisse que não sou de ferro e que minha coluna é feita de ossos e nervos e que este sistema pode entrar em parafuso de uma hora para a outra. A percepção da minha fragilidade me veio aliada ao fato de que o momento pede transformações. Não só na forma como eu mesma me observo, como alguém que precisa eventualmente de cuidados e não apenas aquela que cuida dos outros, mas também de mudança de rumos. Chegou a hora de me movimentar para direções diversas.
A percepção de coisas muito fortes geralmente acontece assim: de repente. Quando eu entrava naquele tubo para fazer uma ressonância magnética — foi como se eu entrasse de fato em uma dimensão que me daria um endereço de nova rota. Sim, eu não estava satisfeita com uma série de coisas e sabia que precisava mudar. Entrar daquele duto me acendeu a luz do que eu, no íntimo, já pressentia — novos rumos.
A vida é cíclica mesmo. Tem hora para tudo começar e acabar. Sinto que meu momento termina para vários aspectos e se inicia para tantos outros. Quem sabe eu inclua no roteiro outras paisagens, outros estados de ânimo, outros fazeres? A vida que eu carrego nas costas estava pesada de uma forma que não poderia continuar. O corpo grita, sacode, avisa, esbraveja. Eu escuto.
Segui dali depois de uma breve internação disposta a fazer outros caminhos. Não tenho por que insistir com nada que me apegue a situações que me desagradam e que me obrigam a carregar mundos que não são meus. Sim, às vezes é preciso passar pelo “tubo” para perceber… De fato, alguns momentos de silêncio roubados da tirania da rotina nos alertam para a necessidade de darmos à vida um recomeço. Sempre é tempo de mudar de rotas e de paisagens, de incluir outros projetos ou até mesmos outras formas de silêncio, quando as antigas já não seguram mais nossa necessidade de recolhimento.
Estou ainda me recuperando, mas aproveitando o momento de parada física para pensar sobre o que eu espero de mim nos próximos anos. Fazer uma nova programação pode ser uma ideia promissora depois de tempos sombrios de pandemia. Quem sabe a possibilidade de caminhar com mais leveza me direcione a travessias novas, onde eu faça acordos mais amplos comigo mesma e com as palavras?