Vargas Llosa e Euclides da Cunha: confluências (4)

Talvez seja necessária neste ponto a pergunta sobre "Os sertões" e "A guerra do fim do mundo"
Jorge Mario Pedro Vargas Llosa, autor de “A guerra do fim do mundo”
01/03/2013

Talvez seja necessária neste ponto a pergunta sobre os dois livros: se Os sertões equivale mais a uma grande reportagem e A guerra do fim do mundo, naturalmente, mais a uma ficção, que aspectos poderiam ser destacados na narrativa de cada um? Em Os sertões, na parte da Luta, são reaproveitadas as reportagens que Euclides fez como correspondente de guerra. Mas estas reportagens, no livro, ganham nova roupagem, ou um estatuto diferente. Reunindo a parte da Luta com a da Terra e a do Homem temos uma obra híbrida, um misto de ciência e literatura, sobretudo. O caráter narrativo, no livro de Euclides, se constitui mais propriamente na parte da Luta. Euclides é um narrador equilibrado, muito atento, que busca ser fiel aos fatos, apresentando, sempre de um ângulo próximo, os dois lados da guerra. E emite, fiel a seus princípios e com profundo senso de justiça, suas opiniões acerca da guerra. Vargas Llosa põe uma multiplicidade de pontos de vista sobre a guerra em seu romance, de tal modo que, como já apontou a crítica, um tende a neutralizar o outro. Naquilo que diz respeito aos sentidos mais profundos da guerra, o livro de Vargas Llosa, apesar de ser rico e de valer muito a pena ser lido, tem certos equívocos. Não penetra tão fundo na questão como o de Euclides. Este entendeu e sentiu tanto o que estava em jogo que, republicano convicto, terminou optando por uma crítica radical ao modo de ser de nossa República. Fez uma revisão de seus pontos de vista. Portanto, Euclides é exemplo de intelectual que soube ter o distanciamento e a sabedoria necessários para, no momento próprio, operar uma autocrítica.

Rinaldo de Fernandes

É escritor e professor de literatura da Universidade Federal da Paraíba. Autor de O perfume de Roberta, entre outros.

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