Entre quatro paredes
Foi num movimento mais longo e preguiçoso com os braços, para secar as costas, que fez cair, dentro do boxe molhado pelas sobras da água do banho, uma escova dental colocada por alguém desmazelado sobre a beira da janela basculante do banheiro. Sozinho entre as quatro paredes, terminou de secar o corpo e, com prudência para não dar um mau jeito na coluna vertebral, abaixou-se, recolheu a escova e, antes de repô-la no mesmo lugar, lavou-a com capricho para que seu dono, desavisado, não viesse a escovar os dentes com uma escova antes caída sobre a água impura do banho de outrem.
Especializações profissionais simples
O saguão daquele moderno centro profissional estava deserto porque era a hora do almoço. Bem-disposto, aproveitou a solidão do lugar e a frescura promovida pelo ar-condicionado central e sentou-se numa das cadeiras de espera enfileiradas ao longo da parede. O cinzeiro significava que ali ainda era permitido fumar.
Vindo das traseiras do prédio, chegou um homenzinho uniformizado de faxineiro, carregando um recipiente d’água provido de vaporizador e uma flanela umedecida: era o encarregado de limpar diariamente cada uma das folhas das folhagens dos vasos que enfeitam os corredores do edifício. Co-responsável, o homenzinho uniformizado deteve-se defronte do vaso ao lado do cinzeiro e, meticuloso, pôs-se a borrifar cada folha para depois esfregá-la carinhosamente com a flanela.
Terminada a tarefa, saiu em busca de outras folhagens, resmungando:
– Vê se não me bota a guimba no vaso!.