Tradução e seleção: André Caramuru Aubert
If we must die
If we must die, let it not be like hogs
Hunted and penned in an inglorious spot,
While round us bark the mad and hungry dogs,
Making their mock at our accursèd lot.
If we must die, O let us nobly die,
So that our precious blood may not be shed
In vain; then even the monsters we defy
Shall be constrained to honor us though dead!
O kinsmen! we must meet the common foe!
Though far outnumbered let us show us brave,
And for their thousand blows deal one death-blow!
What though before us lies the open grave?
Like men we’ll face the murderous, cowardly pack,
Pressed to the wall, dying, but fighting back!
Se tivermos que morrer
Se tivermos que morrer, que não seja como porcos
Caçados e encurralados num buraco imundo,
Com cachorros loucos e famintos latindo em volta,
Zombando de nós, os amaldiçoados.
Se tivermos que morrer, Oh, que seja uma morte direita,
Para que nosso precioso sangue não seja derramado
Em vão; e então, até mesmo os monstros que desafiamos
Serão obrigados a nos honrar, ainda que mortos!
Oh, irmãos! Devemos enfrentar o inimigo comum!
Ainda que sejamos poucos, vamos mostrar que somos bravos,
E diante dos mil golpes deles desferiremos um único, mas mortal!
E se, diante de nós, estiver aberta uma sepultura?
Como homens, encararemos a matilha assassina e covarde,
Esmagados contra a parede, morrendo, mas lutando.
…
Romance
To clasp you now and feel your head close-pressed,
Scented and warm against my beating breast;
To whisper soft and quivering your name,
And drink the passion burning in your frame;
To lie at full length, taut, with cheek to cheek,
And tease your mouth with kisses till you speak
Love words, mad words, dream words, sweet senseless words,
Melodious like notes of mating birds;
To hear you ask if I shall love always,
And myself answer: Till the end of days;
To feel your easeful sigh of happiness
When on your trembling lips I murmur: Yes;
It is so sweet. We know it is not true.
What matters it? The night must shed her dew.
We know it is not true, but it is sweet—
The poem with this music is complete.
Romance
Abraçá-la agora e sentir sua cabeça apoiada,
Cálida e perfumada, no meu peito;
Sussurrar suavemente, com lábios trêmulos, o seu nome,
E sorver a paixão que queima em seu corpo;
Deitar-me por completo, intenso, nossos rostos colados,
E provocar sua boca com beijos, até que você fale
Palavras de amor, palavras loucas, palavras de sonho, palavras doces, inconsequentes,
Melodiosas como a de passarinhos namorando;
Ouvi-la perguntando se a amarei para sempre,
E eu responder: até o fim dos tempos;
Sentir seu relaxado suspiro de felicidade
Quando em seus lábios trêmulos eu murmuro: sim;
Tudo isso é tão lindo. Sabemos que não é verdade.
Mas que importa? A noite deve esparramar o orvalho.
Sabemos que não é verdade, mas é lindo —
O poema com esta música está pronto.
…
The lynching
His spirit in smoke ascended to high heaven.
His father, by the cruelest way of pain,
Had bidden him to his bosom once again;
The awful sin remained still unforgiven.
All night a bright and solitary star
(Perchance the one that ever guided him,
Yet gave him up at last to Fate’s wild whim)
Hung pitifully o’er the swinging char.
Day dawned, and soon the mixed crowds came to view
The ghastly body swaying in the sun:
The women thronged to look, but never a one
Showed sorrow in her eyes of steely blue;
And little lads, lynchers that were to be,
Danced round the dreadful thing in fiendish glee.
O linchamento
Seu espírito, em fumaça, subiu ao mais alto céu.
Seu pai, pela mais cruel das dores,
Havia pedido que ele viesse uma vez mais abraçá-lo;
O terrível pecado permanece ainda sem perdão.
A noite inteira uma estrela brilhante e solitária
(Talvez aquela que sempre o guiou.
Mas que no fim o entregou ao capricho selvagem do Destino)
Pendurado impiedosamente a balançar sobre a cadeira.
O dia nasceu, e logo o aglomerado de pessoas chegou para contemplar
O corpo horrível balançando ao sol;
As mulheres se amontoaram para olhar, mas nenhuma delas
Exibiu tristeza em seus metálicos olhos azuis;
E os garotinhos, futuros linchadores,
Com alegria diabólica dançaram em volta da cena medonha.
…
Subway wind
Far down, down through the city’s great gaunt gut
The gray train rushing bears the weary wind;
In the packed cars the fans the crowd’s breath cut,
Leaving the sick and heavy air behind.
And pale-cheeked children seek the upper door
To give their summer jackets to the breeze;
Their laugh is swallowed in the deafening roar
Of captive wind that moans for fields and seas;
Seas cooling warm where native schooners drift
Through sleepy waters, while gulls wheel and sweep,
Waiting for windy waves the keels to lift
Lightly among the islands of the deep;
Islands of lofty palm trees blooming white
That led their perfume to the tropic sea,
Where fields lie idle in the dew-drenched night,
And the Trades float above them fresh and free.
O vento do metrô
Lá embaixo, bem embaixo, através das grandes e esquálidas entranhas da cidade
Corre o trem cinzento levando o vento cansado;
Nos vagões lotados os ventiladores cortam a respiração das pessoas,
Deixando atrás um ar pesado e doente.
Crianças pálidas tentam alcançar as portas
Para deixar ao vento suas jaquetas de verão;
As risadas são engolidas no rugido ensurdecedor
Do vento cativo que geme por campos e mares;
Mares que esfriam e esquentam onde escunas nativas flutuam
Por águas sonolentas, enquanto gaivotas giram e vasculham,
Esperando por ondas com vento para se elevar
Levemente por entre as ilhas das profundezas;
Ilhas de palmeiras altas de floradas brancas
A lançar seus perfumes no mar dos trópicos,
Onde campos repousam preguiçosos nas noites encharcadas de orvalho,
Os bons ventos flutuando acima, frescos e livres.
…
December, 1919
Last night I heard your voice, mother,
The words you sang to me
When I, a little barefoot boy,
Knelt down against your knee.
And tears gushed from my heart, mother,
And passed beyond its wall,
But though the fountain reached my throat
The drops refused to fall.
‘Tis ten years since you died, mother,
Just ten dark years of pain,
And oh, I only wish that I
Could weep just once again.
Dezembro de 1919
Noite passada ouvi sua voz, mãe,
As palavras que cantava para mim
Quando eu, garotinho, descalço,
Me aninhava junto ao seu joelho.
E lágrimas jorraram de meu coração, mãe,
E atravessaram as paredes,
Mas embora a fonte tenha chegado à minha garganta
As gotas se recusaram a cair.
Faz dez anos desde que você morreu, mãe,
Só dez sombrios anos de tristeza,
E, oh, eu só queria
Poder chorar mais uma vez.
…
The White House
Your door is shut against my tightened face,
And I am sharp as steel with discontent;
But I possess the courage and the grace
To bear my anger proudly and unbent.
The pavement slabs burn loose beneath my feet,
And passion rends my vitals as I pass,
A chafing savage, down the decent street;
Where boldly shines your shuttered door of glass.
Oh, I must search for wisdom every hour,
Deep in my wrathful bosom sore and raw,
And find in it the superhuman power
To hold me to the letter of your law!
Oh, I must keep my heart inviolate
Against the potent poison of your hate.
A Casa Branca
Sua porta se fecha contra minha face tensa,
E com meu desagrado estou afiado como lâmina;
Mas tenho a coragem e a elegância
Para, altivo e orgulhoso, suportar minha raiva.
Os tacos do piso solto queimam sob meus pés,
E a cólera despedaça meus sinais vitais enquanto caminho,
Um selvagem irritado numa rua de gente decente;
Onde reluz, forte, sua porta de vidro fechada.
Oh, sou obrigado o tempo todo a buscar por sabedoria,
No fundo do meu peito zangado, dolorido e cru,
E ali buscar o poder sobre-humano
Para me manter à letra da sua lei!
Oh, preciso preservar meu coração indevassado
Diante do poderoso veneno do seu ódio.