Rascunho, 20 anos

As quase inacreditáveis duas décadas deste jornal de literatura
Arte: Marcelo Cipis
30/04/2020

Esta edição (e basta dar uma espiada na capa) marca os 20 anos do Rascunho, cujo nome dispensa muitas explicações. Nunca fomos afeitos ao cabotinismo, à autolouvação, mas um jornal de literatura completar duas décadas no Brasil talvez seja algo a comemorar. Estas 240 edições representam milhares de páginas, milhares de textos (resenhas, ensaios, entrevistas, inéditos de ficção, poemas, ilustrações), milhares de colaboradores e milhares de leitores em todas as partes do mundo, nas versões impressa e digital.

É comum atrelar a longevidade do Rascunho — uma publicação independente — a um ato heroico, de resistência, levando em consideração o ambiente em torno da leitura no país [leiam o esclarecedor texto de Marisa Lajolo]. Pode até ser. Mas não se trata disso: heroísmo ou resistência. Trata-se de algo mais singelo: tentar, a cada página, manter acesa a máxima de William Faulkner sobre a literatura: “O que a literatura faz é o mesmo que acender um fósforo no campo no meio da noite. Um fósforo não ilumina quase nada, mas nos permite ver quanta escuridão existe ao redor”.

O Rascunho é, portanto, desde 8 de abril de 2000, um fiapo de luz em meio à escuridão que nos cerca. Seu alcance é limitado, mas nem por isso deixa de ser importante. Desde o seu início, a sobrevivência tem sido o grande desafio. “Até quando?” é uma pergunta que nos persegue com avidez. Obviamente, não há resposta. Mas é possível afirmar que o Rascunho só segue relevante no cenário cultural brasileiro graças a todos os colaboradores (colunistas, resenhistas, ilustradores, designers), que empregam seus talentos a cada nova edição. E, claro, também aos fiéis leitores. Bastante óbvio, mas necessário ressaltar: sem colaboradores e leitores, o Rascunho jamais seria este fósforo teimosamente aceso numa imensa escuridão há exatos 20 anos.

Portanto, muito obrigado.

Rogério Pereira

Nasceu em Galvão (SC), em 1973. Em 2000, fundou o jornal de literatura Rascunho. É criador e coordenador do projeto Paiol Literário. De janeiro de 2011 a abril de 2019, foi diretor da Biblioteca Pública do Paraná. Tem contos publicados no Brasil, na Alemanha, na França e na Finlândia. É autor dos romances Antes do silêncio (2023) e Na escuridão, amanhã (2013, 2ª edição em 2023) — finalista do Prêmio São Paulo de Literatura, menção honrosa no prêmio Casa de las Américas (Cuba) e traduzido na Colômbia (Babel Libros) — e da coletânea de narrativas breves Toda cicatriz desaparece (2022), organizada por Luiz Ruffato.

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