Poemas de Leonardo Almeida Filho

Leia os poemas "Ogiva", "Soneto em redondilha maior" e "Vão divã" de Leonardo Almeida Filho
Leonardo Almeida Filho, autor de “Babelical”
30/11/2019

Ogiva

Para Alberto Bresciani

Armar um poema requer lógica
Uma lógica secreta
de seita, confraria
e que apenas os poetas
iniciados nas artes dessa alquimia
conhecem e arriscam articular

Armar um poema é sempre forma
de amar o poema
que o leitor, ao final,
amando-o também,
tentará eternamente,
e sem sucesso,
desarmar.

Soneto em redondilha maior

Se tudo é um simulacro
— parte de um todo postiço —
existe um mundo castiço
no micro que oculta o macro?

O mundo tem cheiro e viço
tem brilho, mesmo no escuro
Quanto mais perco, procuro
aquilo que dão sumiço.

Saiba, de agora em diante,
meu amigo ignorante:
— Não se deve ignorar

que é mais que um bonsai gigante
a árvore mais distante
que o olho possa alcançar

Vão divã

Luz coada, chão
e brilho
Minha escuridão
na sombra.

Farpa que desliza
seu trajeto pela alma
fincada que foi
pelo tempo, pelo tempo.

A vã tentativa
de todos nós:
extrair do corpo
a dor que a farpa
trouxe de mansinho.

violenta cura
morder a ferida
cuspir o pus
cortar o membro
estancar a gangrena
incendiar o espírito.

 

Leonardo Almeida Filho

Nasceu em 1960. Compositor e escritor paraibano radicado em Brasília (DF), mestre em Literatura Brasileira. Autor de romances, livros de ensaio e de contos, publicou em 2007 o manifesto logomaquia. Estreou na poesia em 2018 com Babelical pela Patuá.

Rascunho