Poemas de Gerhard Falkner

Leia os poemas traduzidos "Ah, a mesa" e "A frase inquietante"
Gerhard Falkner, autor de “Apollokalypse”
01/09/2013

Tradução: Viviane de Santana Paulo

 Ah, a mesa
(Sobre a poesiEla do poeTu)

E me ouvirá dizer: ah, a mesa!
Ah, a… me ouvirá dizer: ah, a mesa!
E me perguntará: onde! Venha!
E me ouvirá dizer, ah esta
Ouvir dizer… com o pão!
E me desejará, me desejará
Quando digo, ah esta… ah a mesa
Com o pão, em cima
Com o pão de plumo
Com o pão em cima pesado como o plumo
Com o pão que como submarino
Emerge da mesa imóvel
E ela se perguntará
Ah, o pão… quem o conduz, o pão?
Porque me desejará
Ela pensará
Desejará quando digo: ah, este
… sobre… o pão
Mas me ouvirá: ah a mesa:
Significa uma incoerência em minha vida
Significa, a mesa, uma incoerência
Minha mão não consegue domesticá-la
Ainda é uma mesa não domesticada
Uma… ah a mesa vai, uma mesa
Sobre a qual repousa um pão em seu corpo vinculado
E me desejará como o pão
Mas como longos, silenciosos sábados de outrora…
Meus olhos deixaram de lado seu desejo
Pois, pois ele, pois desta vez isto como… ah, a mesa…
Coisa captada, ele desta vez como… ah, a…
Ah, a mesa, captada coisa
É por várias coisas minhas como um lar
E o pão. O que mais é o pão
Do que um detalhe, sobre o qual não vale a pena falar
Escutá-lo, só conseguimos escutar do pão
O que recita de memória, como ele, o pão
salmodia, como decai no injurioso
jambo, como abandona como pão falado
o círculo protetor de sua silente representação — bem dito:
Com negligência abandona e como ah expressivo
Pão com todos os seus sinais da cruz
Irrompe fora de si, como
Minha sofrida presença no mundo só por amor à vida
surpreendida com o pão falado, da palavra
Rebentada do silêncio e do pé da mesa
E me ouvirá dizer… ah ela!
Ah, ela… me ouvirá dizer… ah a mesa!
E me desejará para a palavra
Para isso… ei-la, a palavra!
Para a palavra, que deixará a mesa sem pão
Com o tempo, me desejará, à sua disposição
Devo estar para ela — debaixo da mesa, ah, em cima…
O pão, revolto, o sub- pão e enquanto
contempla da pura superfície um brilhante futuro
Devo euela, hiphop, devo euela, a ele
Na sombra da mesa, entre
As quatro pernas fortes como dos quatro elementos
Estar à disposição, em uma posição como golpeado
Por uma palavra injuriosa debaixo da mesa, devo
Pegar sua coisa na mão, devo, devo levar sua
Língua à minha boca: uma língua dos homens, uma
Língua dos homens estalada da mesa à boca! Por isso
Queria, quando me ouvir dizer:
Ah ela… ah a mesa! Quando euah
Por isso que eu queria querer, queria o pão polido
Aristotelizado, o pão, que desencadeou uma onda de nudez
Nas coisas, a inútil nudez
Inúmeras coisas foram reveladas na inútil nudez
Apesar disso, assim foi, foi grande, foi jovem louro e grande
Foi em sintonia com a mesa, a mesa
Com o pão, acaba de terminar um tempo, um tempo
Do gênero que transcorre violento, ou se detém
Festivamente ou transcorre violento
Um tempo, que estipula à mesa um prazo
Mas o meu euah, instrução
Dada ao destino: de-lhe de tudo logo! Não me perdura
Me ouvirá dizer: não me perdura
Me ouvirá dizer quando digo… ah ela… ah a mesa!
E desejará me perguntar: ah esta… me!
Com o pão em cima, como o poema no seu obscuro
Corpo vinculado, que salmodia e com o qual
Tudo foi dito, mais do que tudo, quero do pão
Em cima
Mais do que tudo, quero, à noite, quando o pássaro tordo
emudece, que tenha possuído mais do que tudo, deveria
ter chorado sem lágrimas como em um verso
de Trakl, deveria me, deveria me dizer
escutado: NÃO TU! Posso clicar no pão
e tenho o teu seio: (um seio para os deuses)
posso clicar no teu peito
e tenho o teu coração… (um coração para os deuses)
mas não tu! Somente o pão
nada mais quero alcançar, quero
após o pão, ao qual depositei tanta importância
nada mais alcançar
mas eu ah eu sou eu sou porém sou
não sou de se possuir!
Ele quis depositar as mãos em mim mas
Eu sou, quem não é de se possuir!
Não pelo pão… e não… debaixo da mesa!

Ach, der Tisch
(Zur PoeSie des PoeDu)

Und er wird mich sagen hören: ach, der Tisch!
Ach, der… wird mich sagen hören: ach, der Tisch!
Und er wird mich fragen werden: wo! Zu!
Und er wird mich sagen hören, ach der
sagen hören… ach der… ach der Tisch!
der Tisch… mit dem Brot!
Und er wird mich haben wollen, haben wollen
wie ich sage, ach der… ach der Tisch
mit dem Brot, oben
mit dem Brot aus Blei
mit dem schwer wie Blei daliegenden Brot
mit dem Brot, das wie ein U-Brot
emportauchte aus dem reglos daliegenden Tisch
aus der leuchtend daliegenden Tischplatte
und er wird sich fragen werden
ach das Brot… wer lenkt es, das Brot?
Weil er mich wird haben wollen
wird er denken
haben wollen wie ich sage: ach das
… oben… das Brot
doch er wird mich sagen hören hören: ach der Tisch:
er bedeutet eine Ungereimtheit in meinem Leben
er bedeutet, der Tisch, eine Ungereimtheit
es gelang meiner Hand nicht, ihn zu zähmen
es ist ein noch immer ungezähmter Tisch
ein… ach der Tisch halt, ein Tisch
dem ein Brot aufliegt in seinem gebundenen Laib
und er wird mich haben wollen wie das Brot:
aber wie die langen, lautlosen Samstage damals… damals…
werden meine Augen über seinen Wunsch hinweggehen
denn, denn das, denn das diesmal als… ach der Tisch…
erblickte Ding, das diesmal als… ach der…
ach der Tisch erblickte Ding
ist für manches von mir wie ein Zuhause
und das Brot. Was ist schon das Brot weiter
als eine Einzelheit, nicht der Rede wert,
es zu hören, wir kriegen vom Brot eh nur zu hören
wie es sich auswendig hersagt, wie es, das Brot
sich herunterleiert, wie es verfällt in den schmähenden
Jambus, wie es als gesprochenes Brot den Schonkreis
seiner schweigsamen Darstellung verläßt – und wohlgemerkt:
vernachlässigend verläßt und als ach ausdrückliches
Brot mit allen seinen drei Kreuzchen (XXX)
aus sich herausplatzt, wie es
meine nur dem Leben zuliebe erlittene Weltanwesenheit
überrumpelt mit dem gesprochenen Brot, dem
aus der Stille und dem Stollen des Tisches
gesprengten Wort
und er wird mich sagen hören… ach der!
ach der… wird mich sagen hören… ach der Tisch!
Und er wird mich haben wollen für das Wort
für das… na, das Wort!
Für das Wort, das den Tisch brotlos machen wird
mit der Zeit, wird er mich haben wollen, zu Willen
soll ich ihm sein – unter dem Tisch, ach und oben…
das Brot, tobt, das U-Brot und während die
reine Fläche hinausblickt auf eine glanzvolle Zukunft
soll ichach, hiphop, soll ichach, ihm
im Schatten des Tisches, zwischen den
wie die vier Elemente dastehenden starken Beinen
zu Willen sein, in einer Haltung wie vom ausfälligen
Wort unter den Tisch geprügelt soll ich sein Ding
in die Hand nehmen, soll ich, soll ich seine Sprache
in den Mund nehmen: eine Männersprache, eine
aus dem Tisch in den Mund gesprengte
Männersprache! Dabei
wollte ich, als ich mich sagen hörte:
ach der… ach der Tisch! Als ichach
dabei wollte ich wollen, wollte das geschliffene Brot
aristotelisieren, das Brot, das eine Welle von Nacktheit
ausgelöst hat unter den Dingen, unnötige Nacktheit
unzählige Dinge in unnötiger Nacktheit gezeigt hat
doch ging dann, ging groß, ging jung blond und groß,
ging im Einklang mit dem Tisch, dem Tisch
und dem Brot, eine Zeit eben zu Ende, eine Zeit
von der Art, die gewaltig verstreicht, entweder festlich
innehält oder eben gewaltig verstreicht
eine Zeit, die dem Tisch eine Frist setzt
aber mein ichach, da doch dem Schicksal Weisung
gegeben: gib ihm rasch von allem! es dauert mich
es wird mich sagen hören: es dauert mich
sagen hören wie ich sage… ach der… ach der Tisch!
Und er wird mich fragen wollen: ach der… T?
Mit dem Brot oben, dem Gedicht in seinem dunklen,
gebundenen Laib, das sich herleiert und mit dem
alles gesagt ist, mehr als alles, ich will von dem Brot
oben
mehr als alles, ich will, abends, wenn die Drossel
verstummt, mehr als alles gehabt haben, es soll
so tränenlos geweint worden sein wie in einer Zeile
von Trakl, es soll mich, soll, soll, soll mich, fertig
gemacht haben, fertig, es soll mich sagen
gehört haben: NICHT DU! Ich kann das Brot anklicken
und habe deine Brust: (eine Brust für Götter)
ich kann deine Brust anklicken
und habe dein Herz… (ein Herz für Götter)
aber nicht du! Nur das Brot
ich will nicht mehr gekonnt haben können, will
nach dem Brot, in das ich soviel Gewicht gelegt habe
nicht mehr gekonnt haben können
aber ich ach ich bin ich bin doch bin
doch nicht zu haben!
Er hat seine Hände an mir haben wollen aber
ich bin, bin nicht zu haben
nicht für Brot… und nicht… unter dem Tisch!

 …

 A frase inquietante

Primeiro se forma um sulco na palavra
por onde o leite, que circula na língua,
recolhe-se — e de onde se pode beber:
o leite do idioma. Ao beber o leite
do sulco da palavra surge a secura —
a secura do idioma — o idioma se tornará quebradiço
cingindo o que já foi apreendido, até mesmo ordenhado
e ainda esvaziado o recipiente da palavra.
Um sulco na palavra é como se o sonho
adquirisse fendas. Em ambos os lados do sulco
lascas se soltam, que a oclusa
superfície falada da língua tanto quanto a
a oclusa superfície inefável do sonho
desprendem. As fissuras e as lascas de ambos os lados
do sulco na palavra ou do sonho
se desfazem ao emergir o novo leite dos
taludes, que se derrama nestes sulcos
e começa, através da erosão,
a se encher de novo. O excitante da escassez
do idioma rachado ou do sonho lascado
será dirimido através do amontoamento
de taludes que surgem na formação de sulcos
em favor de uma nova criação
ainda mais exuberante na redondez. As crescentes
palavras portadoras do leite até a formação dos sulcos e esta,
após a perda do leite, no estio da palavra, desencadeia
uma fissura nos taludes, que com o surgimento
de novo leite finalmente se fecha
e com a erosão nos taludes a formação entumecida da língua e dos sonhos,
através da aniquilante alteração de construção e desabamento,
cresce um depósito de palavras advertidas, a
perda da língua e do sonho, assim como a
aquisição da língua e do sonho procuram desmanchar
a inconstância das fissuras do destino

A palavra que se oferece a este processo
Seria: evasão. Alcançar a evasão!
Do depósito de palavras
Advertidas que se forma, no caso ideal, fora da
condução do leite e do processo de formação das fissuras.
Uma confissão alarmante para os sentidos. Uma confissão
alarmante para os sentidos extraída do depósito
de palavras, sem rachaduras, ultrapassando a inclinação
à fratura de um idioma movido pelo pensamento
ou pelo onírico que poderia correr o risco
de rebentar as amarras do cérebro e de verter
o leite que escorreria em vão
e obrigaria à descida desde à altura
da reflexão ao fundo do sentimento. Assim,
direcionado ao seu grau de efeito: maleficamente
pronunciado ao ludibriado ou ao de boa fé,
pronunciado através do olhar aliviado,
deslocado da erosão da língua e do sonho
ou do evacuado poder da palavra dito direto
na manada dos inquietos. A figura do vocábulo é direcionada
estritamente às marcas da intimidação,
infensa à lividez das letras nas vozes da mente, infensa
às salas de interrogatório nos laboratórios, infensa às jogadas de xadrez
no diagrama do cérebro, será pronunciada sem fissuras, sulcos
e lascas e nem como língua nem como sonho entrega-se
à fertilidade das estações do ano ou dos processos de ressecamento. Estes
mais excludentes do que a excluída classificação
das reservas de palavras, sem fissuras ou ameaças de idioma,
na construção comparável à musculatura estriada,
reduzem o risco da provocação gramatical sem sentido.

Der beunruhigende Satz

ZUERST bildet sich eine Rinne im Wort
in der die Milch, die die Sprache durchströmt
sich sammelt – und aus der man sie trinkt:
die Sprachmilch. Durch das Trinken der Milch
aus der Rinne im Wort entstehen Trockenheiten –
Sprachtrockenheiten – die Sprache wird brüchig
rund um das einmal ergriffene, sogar gemolkene
und mithin leer getrunkene Wortgefäß.
Eine Rinne im Wort ist wie wenn der Schlaf
Risse kriegt. Beiderseits des Rinnengrabens
springen Spalten auf, die die geschlossene
gesprochene Sprachoberfläche ebenso wie die
geschlossene ungesprochene Schlafoberfläche
zerreißen. Die Spalten und Sprünge beiderseits
des Rinnengrabens im Wort oder im Schlaf
lösen beim Auftreten neuer Milch die
Böschungen, die in diese Rinne sich neigen
und beginnen durch Abschwemmungen
diesen wieder zu füllen. Der Reiz der Kargheit
der rissigen Sprache oder des Schlafs mit Sprüngen
wird durch die Aufschüttung aus den immerzu bei der
Rinnenbildung entstehenden Böschungen
beseitigt, zugunsten einer wiederhergestellten
üppigeren Abrundung. Das Heranwachsen milchführender
Wörter bis zur Rinnenbildung und diese nach
Verlust der Milch über eine Wortdürre ausgelöste
Böschungsrissigkeit, die dann nach Auftreffen
neuer Milch schließlich sich wieder schließenden
und mit abgeschwemmten Böschungen neu sich
auffüllenden Sprach- oder Schlafgebilde lassen durch
den vernichtenden Wechsel von Aufbau und Verschüttung
ein Depot gewarnter Worte heranwachsen, die
Sprachverlust und Schlafverlust ebenso wie
Spracherwerb und Schlaferwerb dem Wankelmut des
Rinnenschicksals entwinden wollen. 

Das sich anbietende Wort für diesen Vorgang
wäre: entrinnen. Entrinnen schaffen!
                        Aus dem Depot gewarnter
Wörter bildet sich im Idealfall außerhalb der
Milchführungs- und Rissebildungsvorgänge eine
die Sinne alarmierende Aussage. Eine die Sinne
alarmierende Aussage aus einem Depot
rinnenfreier Worte überspringt die
Bruchbildungsneigung einer denkbewegten oder
schlafbewegten Sprache, die Gefahr laufen könnte
Gehirnbänder zu sprengen und die sie
durchströmende Milch sinnos zu vergießen
und erzwingt den Abstieg aus der Höhe der
Reflexion in die Tiefe der Empfindung. So um
ihren Wirkungsgrad gedreht: böswillig
ausgedrückt um diesen betrogen oder gutwillig
ausgedrückt von diesem erleichtert blickt eine
von der Sprach- oder der Schlaferosion abgerückte
oder evakuierte Wortmacht direkt auf die
Unruheherde. Die Figur der Vokale ist gerichtet
ausschließlich auf Merkmale der Abschreckung
gegen die buchstabenbleiche Kopfstimme, gegen
die Verhörräume im Labor, gegen Schachzüge
auf der Gehirnkarte; sie wird ohne Risse, Rinnen
und Sprünge gesprochen und weder als Sprache
noch als Schlaf den jahreszeitlichen Fruchtbarkeits-
oder Verdorrungsvorgängen überantwortet. Diese
mehr als aussetzend denn als ausgesetzt einzustufenden
ungekerbten und rinnenlosen Wortbestände oder
Sprachandrohungen, im Aufbau vergleichbar
der quergestreiften Muskulatur, verringern das Risiko
sinnloser grammatikalischer Provokation.

Gerhard Falkner
Nasceu em Schwabach (Alemanha), em 1951. É poeta, dramaturgo, ensaísta e tradutor literário, considerado pioneiro de uma nova linguagem na poesia alemã. Desde seu primeiro livro, lançado em 1981, so beginnen am körper die tage (assim começa o dia no corpo), Falkner distancia-se da poesia que abrange o cotidiano, dotada de um linguajar emocional ou composta de pura experiência de linguagem. Seus poemas são baseados na mistura intertextual pós-moderna. Gerhard Falkner recebeu inúmeros prêmios na Alemanha. Vive entre a Baviera e Berlim.
Viviane de Santana Paulo

Poeta, tradutora e ensaísta, Viviane de Santana Paulo é autora dos poemas de Depois do canto do gurinhatã (Multifoco) e Passeio ao longo do Reno (Gardez! Verlag) e do livro de contos Estrangeiro de mim (Gardez! Verlag). Seus poemas foram publicados nas antologias Roteiro de poesia brasileira — poetas da década de 2000 (Global) e Antología de poesía brasileña (Huerga Y Fierro).

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