Poemas de Flavia Cosma

Leia os poemas traduzidos "3", "8", "12", "13", "37", "41" e "42"
A poeta canadense Flavia Cosma
27/01/2017

Tradução: Anderson Braga Horta

3

Estamos sobre el borde de piedra del mundo,
a medias dormidos,
a medias en vigília,
sintiendo, presintiendo
inundaciones,
temblores de tierra,
bombardeos,
el fin
cada vez más cerca.

Jesús, crucificado
en el madero,
con ansiedade nos besa
y aguarda.

3

Estamos na borda de pedra do mundo,
meio adormecidos,
meio acordados,
sentindo, pressentindo
inundações,
tremores de terra,
bombardeios,
o fim
cada vez mais próximo.

Jesus, crucificado
no madeiro,
com ansiedade nos beija
e aguarda.

…..

8

Te quiero en el otoño
más que en cualquier otro momento.
El otoño
que con delicadeza te recoge
en decenas de rostros anónimos
rendidos por el esfuerzo.

Tu pelo, heno fresco de la llanura,
refleja cálidos rayos del verano passado,
tus ojos, soles enfermizos
relucen con mucha fiebre
entre la neblina baja.

Como un príncipe ágil,
como un sueño descarriado
con el rocío matinal te dissipas.
El frío joven te vuelve, luminoso,
delgadas capas de hielo quebradizo.

Cuajado el tempo exhausto
minuciosamente pasa,
como pan fermentan sollozos en el pecho.
Y caigo a la memoria
lo mismo que a una fuente,
sacudiendo el aire marchito
con mis manos,
alas inútiles.

8

Quero-te no outono
mais que em qualquer outro momento.
O outono
que com delicadeza te recolhe
em dezenas de rostos anônimos
rendidos pelo esforço.

Teu cabelo, feno fresco da planície,
reflete cálidos raios do verão passado,
teus olhos, sóis enfermiços,
reluzem com muita febre
em meio à neblina baixa.

Como um príncipe ágil,
como um sonho desgarrado,
com o rocio matinal te dissipas.
O frio jovem te estende, luminoso,
delgadas capas de gelo quebradiço.

Coagulado o tempo exausto
minuciosamente passa,
Como pão fermentam soluços no peito.
E caio na memória
tal como numa fonte,
sacudindo o ar murcho
com as mãos,
asas inúteis.

…..

12

¡Qué transparente el sol
en los granos de uva!

¡Qué redondas las manzanas
silvestres durmiendo
bajo el árbol viejo!

¡Qué oscuras las semillas a merced del viento
por los caminos!

Hasta pálidas flores púrpura
conocen el beso nevado de la luna,
jadeo nocturno florecido,
la lluvia en finas gotas, como recuerdos,
las inquietudes, los tábanos.
Manos invisibles los adornan
escogiendo
algunas dalias, algunas mimosas.

Hablamos de muertos a la media noche
como se estuvieran vivos, con nosotros.
Hablamos con los vivos, tiernamente,
como si estuvieran muertos,
aún amados.
Y la llama acariciadora
danza entre las palabras
ya en un mundo,
ya en el otro.

12

Que transparente o sol
nos bagos de uva!

Que redondas as maçãs
silvestres dormindo
sob a árvore velha!

Que escuras as sementes à mercê do vento
pelos caminhos!

Até pálidas flores púrpura
conhecem o beijo nevado da lua,
arquejo noturno florescido,
a chuva em finas gotas, como lembranças,
as inquietudes, as mutucas.
Mãos invisíveis as adornam
escolhendo
algumas dálias, algumas mimosas.

Falamos de mortos à meia-noite
como se estivessem vivos, conosco.
Falamos com os vivos, ternamente,
como se estivessem mortos,
ainda amados.
E a chama acariciadora
dança entre as palavras
ora em um mundo,
ora no outro.

…..

13

No abras del todo los ojos,
deja los postigos a medio correr.
No creas, no creas,
muchos hombres se precipitan
a la luz,
abaten las puertas con tesón,
invaden el sol con pensamientos confusos
y apresan también una por una
las estrellas y la luna.

Alegremente entran
al santo recinto
y a los jardines del Edén
en sus festines
y dejan fragmentos de vidrio, huesos, brazaletes,
promesas vacías, terrestre podredumbre.

Es más prudente
mantener los ojos cerrados
para que no te contaminen el espíritu
las salpicaduras sucias de la lluvia,
la arena, el polvo revuelto por el viento,
que no te mancillen tus coronas de flores,
y que tus grandes ojos de estrellas fugaces
no conozcan las lágrimas
de sangre y de lodo.

13

Não abras de todo os olhos,
deixa os postigos correrem a meio.
Não creias, não creias,
muitos homens se precipitam
para a luz,
derrubam as portas com rijeza,
invadem o sol com pensamentos confusos
e apresam também
as estrelas e a lua.

Alegremente entram
no santo recinto
e nos jardins do Éden
em seus festins
e deixam fragmentos de vidro, ossos, braceletes,
promessas vazias, terrestre podridão.

É mais prudente
manter os olhos fechados
para que não te contaminem o espírito
os salpicos sujos da chuva,
a areia, o pó revolvido pelo vento,
que não te manchem tuas coroas de flores,
e que teus grandes olhos de estrelas fugazes
não conheçam as lágrimas
de sangue e de lodo.

…..

37

¡Cómo me has quemado, Señor, con el hielo!
¿Qué me diste a beber, que ajenjo
para aplacar la sed apasionada,
el muslo ardiente,
la sonrisa?

¿Cómo podré recibir ya,
Señor, tus dones,
ahora que,
después de tanto invierno,
el sol gozoso
cabalga la colina?

37

Como me queimaste, Senhor, com gelo!
Que me deste a beber, que absinto,
para aplacar a sede apaixonada,
a coxa ardente,
o sorriso?

Como poderei receber já,
Senhor, os teus dons,
agora que,
depois de tanto inverno,
o sol gozoso
cavalga a colina?

…..

41

Cuando la soledad
con su luz me encuentra en el camino
de mañana,
una nueva promesa
se encamina hacia mi conciencia;
el sendero no transitado
me incita,
mientras el pensamiento
permanece enjaulado, prisionero.

Pájaros de papel de colores
aletean por las resucitadas ramas,
los insectos se despiertan
en lugares extraños,
las flores se alzan sobre los pies,
el viento nos reprende contento,
con débiles brazos
recoge de épocas pasadas
soledades futuras.

41

Quando a solidão
com sua luz me encontra no caminho
da manhã,
uma nova promessa
vem à minha consciência;
a senda não trilhada
me incita,
enquanto o pensamento
permanece enjaulado, prisioneiro.

Pássaros de papel de cores
esvoaçam pelas ressuscitadas ramas,
os insetos despertam
em lugares estranhos, as flores se erguem sobre os pés,
o vento nos repreende contente,
com débeis braços
recolhe de épocas passadas
solidões futuras.

…..

42

Entre todas las formas
que están en la base del mundo,
la más cruel
es la geometría,
la perfección del sueño,
la vía infinita,
la línea recta inerte.

Con su geometría áspera,
la ciudad me ciñe contra su pecho de piedra.

En primavera la luz tropieza
con paredes frías
como un pájaro sorprendido,
frágil, canoro.

42

Entre todas as formas
que estão na base do mundo,
a mais cruel
é a geometria,
a perfeição do sonho,
a via infinita,
a linha reta inerte.

Com sua geometria áspera,
a cidade me estreita contra seu peito de pedra.

Na primavera a luz tropeça
em paredes frias
como um pássaro surpreendido,
frágil, canoro.

 

Flávia Cosma

É canadense de origem romena. Graduou-se em engenharia elétrica no Instituto Politécnico, e em teatro na Escola de Artes, ambos de Bucareste. Publicou 29 livros de poesia, um romance, um diário de viagem e cinco livros para crianças. Seus 47 poems (Texas Tech University Press) receberam a láurea ALTA Richard Wilbur Poetry in Translation. Três vezes indicada para o The Pushcart, terceiro prêmio no concurso John Dryden Translation de 2007 pela cotradução de poemas próprios (In the arms of the Father), finalista no Canadian Aid Literary Award Contest de 2007. Em 2009 ganhou o Prêmio Excelência do XXIX Festival Lucian Blaga (Alba-Sebes, Romênia) por sua contribuição ao conhecimento da cultura romena no espaço europeu e no mundo. Também premiada como produtora independente de documentários para TV, como diretora e roteirista, além de inúmeras outras distinções. A editora Dunken, de Buenos Aires, publicou Pluma de Ángeles em 2008; pela Maribelina, da Casa do Poeta Peruano, lançou Hojas de diario, em 2011, e El cuerpo de la luna, em 2013. De Hojas de diario extraímos os poemas aqui apresentados.

Rascunho