Poemas de Cesar Cardoso

Leia os poemas "pensando na redondilha", "• • •" e "as veredas"
Cesar Cardoso, autor de “Coisa diacho tralha”
01/05/2009

pensando na redondilha

naveguei sem ver estrelas
sem tratar de tordesilhas

trouxe no olhar a cegueira
nervos movidos a pilha

cada perda cada queda
era uma nova bastilha

fui o lobo solitário]
que abandonou a matilha

fechei corpo vendi alma
o coração – uma ilha

me analfabetizei
desinventei a cartilha

acabei poeta do bairro
escritor da família

acima do peso dos anos
comedor de redondilha

• • •

vida de labareda
morte de bailarina

sorte de cangaceiro
sina de ampulheta

rumo de navegante
norte de borralheiro

tempo de muçulmano
sino de doravante

ira de machu pichu
dote de saltimbanco

fonte de ama-seca
lírio de monolito

vida de bailarina
morte de labareda

as veredas

toda saudade é uma espécie de enterro
todo esquecido, a melhor parte do erro

nenhuma porta reabre o teu passado
nenhum futuro terá você do meu lado

todo mistério um dia traduz-se em fórmula
tudo que é certo ainda se acaba em dízima

nenhum inferno sobrevive sem seu deus
nenhum embalo confessa parir mateus

nada que presta mesmo assim se dá ao lucro
tudo que fode tem sua hora de eunuco

Cesar Cardoso

É escritor e fotógrafo. Na década de 1970, foi um dos editores da revista de poesia Gandaia. Publicou em 1994 o livro de poemas A nossa moranguíssima paixão. Desde 2003, colabora com a revista Caros Amigos. É roteirista de TV, escrevendo atualmente o seriado Toma Lá Dá Cá, na Rede Globo. Os poemas aqui publicamos integram o livro inédito Coisa diacho tralha.

Rascunho