Poemas de Arturo Herrera

Leia os poemas traduzidos "Amanhecer", "Fim das ruas" e "Próximo à viagem"
01/09/2009

Tradução: Ronaldo Cagiano

Amanhecer

As árvores vão tocar o alvorecer;
a folharada úmida já foi amada.
Aqui, embaixo, os murmúrios e ruídos;
a alma se estremece nas veredas;
ninguém reconhece os pássaros;
as flores vivem como a brisa quer
o espaço silente e a intimidade morrem.
A praça nos salva de algumas mortes.

Fim das ruas

Morre a numeração cansada;
este é um limite. Daqui,
o horizonte prolonga a solidão de areia.
Uma chama pestaneja pelas noites,
ilumina um pedaço de pão compartilhado.
Todo possível ruído
foge em silêncio;
só os cachorros adoram a lua.
O frio trêmulo lastima a pobreza
e já é desprezada a bela chuva
pelo seu costume de invadir as casas.
Morrer-se aqui é apagar os olhos
para não ver os sofrimentos.
Todos usam palavras iguais para o morto:
tem um rosto tão sereno.
Choro de uma criança nova!
Há outro herdeiro dos sofrimentos.

Próximo à viagem

Aqui em meu quarto
restarão todas as coisas que
me acompanham.
Ainda que em minha escrivaninha
se abisme o último grão da vertical de areia,
continuará incessante em meu corpo.
No regresso, seu eu regressar, os livros terão algo de poeira.
A tarde se acostumará
à penumbra do silêncio.
Somente deixo minha ausência.

Arturo Herrera
Nasceu em 1974 em San Fernando del Valle de Catamarca, noroeste da Argentina. Poeta, ensaísta e professor de literatura e latim, publicou Borges — reescritura e vozes confluentes (Ensaio, 2001) e Dons da vigília (poesia, 2004).
Ronaldo Cagiano

Nasceu em Cataguases (MG). Formado em Direito, está atualmente radicado em Portugal. É autor de Eles não moram mais aqui (Contos, Prêmio Jabuti 2016), O mundo sem explicação (Poesia, Lisboa, 2018), Todos os desertos: e depois? (Contos, 2018) e Cartografia do abismo (Poesia, 2020), entre outros.

Rascunho