A vida no dia seguinte

Ruy Espinheira Filho: "O prazer da escrita estará sempre ligado a um ritmo que corresponda bem ao da nossa emoção"
Ruy Espinheira Filho, autor de “Babilônia”
26/05/2018

Ruy Espinheira Filho tem uma vasta obra poética e de prosa. Nascido em Salvador (BA), em 1942, estreou com os poemas de Heléboro (1974). Desde então, publicou mais de 30 livros e recebeu prêmios importantes como Cruz e Souza, Ribeiro Couto, Academia Brasileira de Letras e o Jabuti. Seus livros mais recentes são Babilônia (2017), Milênios (2016) e Noite alta (2015).

• Quando se deu conta de que queria ser escritor?
Na infância, creio que antes de me alfabetizar.

• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Não sei bem se tenho. Enfim, não escrevo em pé nem faço pontas de lápis.

• Que leitura é imprescindível no seu dia a dia?
Acho que cada dia tem a sua leitura que nos convoca. Sou mais de fases — poesia, ficção, filosofia, história… De uma forma ou de outra, a leitura cotidiana é sempre imprescindível.

• Se pudesse recomendar um livro ao presidente Michel Temer, qual seria?
Drácula.

• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
Silêncio.

• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Silêncio.

• O que considera um dia de trabalho produtivo?
Aquele em que temos a impressão de que o que fizemos continuará vivo no dia seguinte.

• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
O processo de escrita é sempre diferente de cada vez. Mas o prazer estará sempre ligado a um ritmo que corresponda bem ao da nossa emoção.

• Qual o maior inimigo de um escritor?
Barulho. E certos críticos, certos editores, certos professores…

• O que mais lhe incomoda no meio literário?
A mediocridade e as máfias.

• Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
Osório Alves de Castro, autor da esquecida obra-prima Porto calendário, romance.

• Um livro imprescindível e um descartável.
Grande sertão: veredas e qualquer um de Paulo Coelho.

• Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
A falta de verdade literária. A menor falsidade será fatal.

• Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Assunto em literatura não tem importância, o que importa é o tratamento literário. Porque literatura não é “o quê”, é “o como”.

• Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
Inusitado? Não sei. Mas na infância me emocionou muito a música de Luiz Gonzaga (o que, aliás, acontece até hoje).

• Quando a inspiração não vem…
Não se escreve. Ou se escreve muito mal…

• Qual escritor — vivo ou morto — gostaria de convidar para um café?
Mário de Andrade.

• O que é um bom leitor?
É o leitor comum. Aquele que também era valorizado por Samuel Johnson e Virginia Woolf.

• O que te dá medo?
Perder uma pessoa querida.

• O que te faz feliz?
A família e as amizades.

• Qual dúvida ou certeza guiam seu trabalho?
A dúvida é a de sempre: o que é que estou mesmo escrevendo? A certeza é que escrever é, para mim, uma fatalidade.

• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Fazer da maneira mais simples possível.

• A literatura tem alguma obrigação?
Sim: a de ser boa literatura.

• Qual o limite da ficção?
Não há limites para a ficção.

• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
A ninguém. Não tenho líder.

• O que você espera da eternidade?
Nada.

Babilônia
Ruy Espinheira Filho
Patuá
120 págs.
Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

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